Este artigo demonstra com dados objetivos a distorção na lucratividade dos bancos brasileiros em relação ao restante do mundo. Você vai entender como isso afeta o seu negócio. E também o que se tem feito para ao menos diminuir o problema.
Vamos abordar os seguintes temas:
Os desafios de empreender no Brasil
A lucratividade dos bancos brasileiros
A concentração bancária
A necessidade de resistir à ganância dos bancos brasileiros
Os desafios de empreender no Brasil
Empreender (com sucesso) no Brasil é um desafio para poucos. Toda atividade produtiva, seja agricultura, indústria ou serviços, demanda injeção de capital, próprio ou de terceiros. Este capital, quando investido apropriadamente, gera riqueza suficiente para fazer retornar este capital, cobrir os custos e remunerar todos envolvidos. E por remunerar todos os envolvidos também se entende o lucro lÃquido do empreendedor, por óbvio.
Quando o capital investido é de terceiros, é necessário computar o custo financeiro. Para as empresas de porte médio, a principal fonte de recursos de terceiros é o sistema bancário. Estas não têm acesso a linhas subsidiadas para micro e pequenas empresas. E também não estão habilitadas a captar no mercado de capitais.
O problema brasileiro é o custo do dinheiro para este tipo de operação. É muito caro financiar a atividade empresarial tomando dinheiro nos bancos brasileiros.
E este custo é alto justamente porque os bancos brasileiros impõem a lucratividade que bem entendem, e no limite do suportável. Ora, no Brasil os bancos lucram duas vezes mais do que a média mundial.
A lucratividade dos bancos brasileiros
No Brasil, o retorno sobre o patrimônio tem sido acima de 20%, e subindo. A tÃtulo de exemplo, a média é de 8,1%. No Reino Unido, 1,5%. Na Alemanha, 1,4%. Mesmo em paÃses com perfil semelhante ao nosso, estas taxas são mais baixas. Na Rússia, 12%. No México, 13,9%. E na Ãndia, 11%.
Outro indicador relevante é o spread médio. Este é a diferença entre o que os bancos remuneram e o que cobram de quem emprestam o dinheiro. Temos simplesmente o segundo maior spread do mundo, atrás apenas de Madagascar. Segundo dados do Banco Mundial, o spread brasileiro é quatro vezes maior do que o do Paraguai. Três vezes o da Argentina e 27 vezes o do Chile! Alguma coisa tem que estar errada, o que você acha?
Dados do IPEA indicam que no Brasil em média 20% da receita das empresas é destinada ao pagamento de juros. Em paÃses mais desenvolvidos, esta média cai para 10%.
Este fardo pesado que os bancos brasileiros impõem ao setor produtivo tem uma razão de ser. Especialistas de diferentes formações e correntes ideológicas são unânimes em dizer que o problema é a alta concentração bancária.
A concentração bancária
Quando cerca de 80% das operações de crédito estão nas mãos de apenas cinco instituições financeiras, é fácil abusar da posição dominante. Este movimento de concentração vem se agravando ao longo dos últimos 10 anos. Na década passada, a concentração bancária estava abaixo de 70%.
O resultado de todo este cenário é que a economia brasileira vem andando de lado. Passados os sinais mais rigorosos da recessão dos últimos anos, é chegado o momento de retomar o crescimento. Porém não é que se tem visto na prática. Em 2017 e 2018 o PIB cresceu pÃfios 1,1%. O mercado trabalha com a redução futura da Selic. Esta seria uma forma de baratear o crédito. O risco, porém, é que os bancos brasileiros se apropriem desta redução e engordem ainda mais os seus lucros.
Ora, quem faz este paÃs crescer são as empresas, em especial as de pequeno e médio porte. Porém, sem o adequado suporte financeiro para suas atividades, esta se torna uma missão quase impossÃvel. Os grandes bancos brasileiros não estão interessados no progresso do paÃs. Estão interessados em manter suas fantásticas margens de lucro.
Muitas empresas hoje se debatem com um nÃvel de endividamento além do suportável. E sem condições de renovar as suas operações. Lutam para não inviabilizar o seu negócio. Enquanto se ocupam destes problemas, cujas causas estamos examinando neste texto, poderiam estar desenvolvendo novos e rentáveis projetos.
Percebem-se tÃmidas iniciativas de parte do Banco Central para fomentar a concorrência bancária. De igual sorte o atual governo federal também manifesta intenção semelhante.
Porém, o poder do oligopólio dos bancos brasileiros não pode ser subestimado. É razoável acreditar que resistirão bravamente até praticarem uma precificação adequada do seu suprimento de crédito ao mercado.
A necessidade de resistir à ganância dos bancos brasileiros
Apesar de tudo isso, é necessário seguir produzindo, e sobrevivendo. Este é o mercado de que dispomos, este é o nosso ambiente de negócios. O que muitas empresas buscam fazer é administrar de forma estratégica o passivo bancário já constituÃdo.
Não é possÃvel simplesmente baixar a cabeça e submeter-se, acriticamente, à s exigências dos grandes bancos brasileiros. Há muitas e boas oportunidades de solução. É preciso entender a dinâmica de incentivos e situações em que se obtém descontos muito vantajosos para as operações inadimplentes.
Muitas vezes, manter uma discussão, administrativa ou mesmo judicial, é mais dispendioso do que encerrá-la fazendo grandes concessões. Isto faz parte do que os bancos denominam gestão de portfólio. Ou seja, aqueles que pagam suas operações em dia, ou mesmo em atraso, geram receita suficiente para a concessão de descontos extraordinários.
Todo este jogo é bastante calculado. Bancos não põem para perder. Mesmo quando aparentemente estão perdendo, estão ganhando, pois estão limpando a sua carteira, e liberando margem para assumir novos negócios.
Falta-nos um amadurecimento institucional que crie um mercado mais favorável aos empreendimentos. Enquanto isso não vem, é necessário estar atento a mecanismos que auxiliam no equilÃbrio das forças. Um destes é a reconhecida morosidade do nosso Poder Judiciário. Como dizia um grande professor de direito, é necessário saber operar o sistema.
Há, enfim, meios de se posicionar para mitigar os danos de um mercado tão capturado e concentrado. E que pratica um custo do dinheiro que beira a inviabilidade. Porém, é necessário fazer uso destes meios com sabedoria, de preferência confiando as estratégias a profissionais experimentados. Caso contrário pode-se produzir resultados ainda piores do que a situação presentemente vivida.